“O Matador”: Homem, destino e cidade no primeiro filme brasileiro da Netflix

“O Matador”: Homem, destino e cidade no primeiro filme brasileiro da Netflix

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A Netflix entregou nesta semana a premiére e estréia de “O Matador”, primeiro longa-metragem da plataforma produzido no Brasil. A companhia, que já havia investido em série como “3%”, entra de vez na seara de produções BR com o filme.

Após uma cerimônia na última quarta (08) em São Paulo, a obra foi apresentada pela primeira vez com grande empolgação. O diretor Marcelo Galvão (também responsável por “Colegas” e “A despedida”), conversou conosco e com o Cinema em Série e falou da felicidade de levar seu trabalho para tantos expectadores. “Deu tudo certo. Além da exposição que vai para 190 países, 110 milhões de usuários vão ter a possibilidade de assistir, é tudo que um diretor quer”, garante.

 

Veja o trailer aqui

 

O filme

Contado como uma história entre sertanejos, “O Matador” traz a lenda de Cabeleira (Diogo Morgado, da série ‘Filho de Deus’). Cabeleira foi um jovem criado numa região isolada de tudo no interior de Pernambuco, e abandonado pelo homem que o criou, um assassino chamado Sete Orelhas (Deto Montenegro, também de “Colegas”). Após anos sozinho naquela região completamente desértica, Cabeleira um dia toma coragem e parte para a cidade mais próxima em busca deste pai que o deixou.

Partindo desta sinopse, poderíamos pensar que se trata de uma história unicamente de drama. Porém, “O Matador” tem ambições e nuances maiores. O filme todo é um faroeste do Brasil, no nordeste do início do século passado, e na simplicidade e na dureza que envolvem os filmes do gênero. A ida de Cabeleira para um novo lugar revela um ambiente dominado pela ganância pela riqueza local – a Turmalina – e uma cidade vendida à um homem conhecido como O Francês, que domina a região (Etienne Chicot, de “O Código DaVinci”).

É interessante notar como “O Matador” sai de seu mote principal, do garoto que vai atrás do seu pai, para apresentar uma cidade. Diferente de outros filmes do gênero, que cercam somente o protagonista e passando o filme em torno das ações únicas dele, Marcelo Galvão tomou a decisão de mostrar um entorno para a Pernambuco dos anos 40. O tempo é bem delineado, mostrando um vilarejo batido pela exploração de pedras, pela violência brutal e pela prostituição. A malícia do lugar é bem representada, inclusive, numa estranha canção que o Francês canta para sua esposa(Maria de Medeiros, de “Pulp Fiction”) em uma das cenas do filme . Assim, o lugar onde chega Cabeleira é quase uma “cidade do pecado” no lugar mais afastado do nordeste, onde passou Lampião e seus cangaceiros, e por onde corria também os Macacos, termo pelo qual eram conhecidos os rivais que perseguiam os cangaceiros (representado aqui por Paulo Gorgulho, que fez “O Cangaceiro” em 1997).

O personagem de Gorgulho, aliás, merece elogios. Como um “macaco“, o ator entrega um homem que ganha um alvo em suas costas, por colocar-se contra os cangaceiros enviados pelo francês. À medida que seu personagem aparece, ele faz as demais amarras aos outros personagens Veja o trailer aqui do filme, como o policial vendido ao francês, e sua esposa e sua cunhada (Tayla Ayala).

Este background faz o espectador entender como os instintos de Cabeleira, que boa parte do tempo é praticamente um animal só com instintos, vai caminhando entre quem quer ver o pai e quem entende que o dinheiro e as armas tudo compram. No desenrolar dos fatos, quem assiste acompanha um crescimento que se pode entender até o ponto onde as coisas chegaram e o desfecho que se dá. Uma montagem por muitas vezes estranha do ponto de vista cinematográfico, mas que funciona muito bem e não se deixa perder.

Como primeira experiência nacional, “O Matador” nos diverte e faz bem aos fãs do gênero. E em um ano de boas surpresas no cinema tupiniquim, o longa de Marcelo Galvão é um acerto ao olhar para um passado que é o nosso faroeste, mas que basta trocar alguns personagens e trazer para a dita “cidade grande” que veríamos exatamente a mesma sociedade que encontramos nos dias atuais. Talvez, só com mais recursos, mas com as mesmas ambições que o diretor apresenta no cangaço.

 

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