Luta por Justiça

Luta por Justiça

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Michael B. Jordan produz e atua numa história dramática e num contexto tristemente circular


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Filmes que tocam o mundo jurídico tem uma característica: Eles tendem a focar no tribunal. Mas e se o desafio for simplesmente ser capaz de levar um caso até lá?

“Luta por Justiça” (Just Mercy) faz desse desafio um drama, que emociona e incomoda na mesma toada, principalmente quando se recorda que baseia-se em um caso famoso que não aconteceu 100, 50 anos atrás, mas um que perdurou até 1993.

O filme mostra Bryan Stevenson (Michael B. Jordan, de “Creed”) advogado recém formado, que se muda para uma cidade no Alabama para começar uma iniciativa de justiça por lá. Ele e sua amiga Eva (Brie Larson, de “Capitã Marvel”) montam uma instituição para buscar julgamentos mais justos para os menos favorecidos, o que os coloca perante vários casos no corredor da morte. Entre eles, o de Johnny D. (Jammie Fox, de “Baby Driver”), um homem acusado injustamente por assassinato. Nessa “luta por justiça”, Stevenson vai precisar correr contra os preconceitos dos locais, contra uma justiça que parece querer um caso encerrado, e contra tempo que se encerra para Johnny D, cada vez mais próximo de ser sentenciado à cadeira elétrica.

Um retorno aos filmes de direito

“Luta por Justiça” mata uma saudade de quem gosta de filmes de advogado/promotor/tribunal, mas seguindo num caminho especial. Ele não foca somente no julgamento como ápice. Na verdade, o filme foca justamente na dificuldade em simplesmente reabrir o caso de Johnny D, numa sociedade que quer acreditar que o personagem de Foxx é o culpado, ainda que com todas as evidências contrárias. As situações pelas quais Bryan passa, e as dificuldades em voltar o crime aos tribunais fazem mais pelo filme que se ele fosse inteiramente em uma corte.

Como um filme que também trata de um preconceito que não se assume, é de se elogiar as tomadas de câmera que mostram os olhares “desconfiados” para B. Jordan, onde não se diz uma palavra por vezes, mas sente-se o clima pesado daqueles olhos que condenam.

Michael B. Jordan e Rob Morgan

Atuações poderosas

Ao reviver uma história que mescla com outros casos reais, o diretor Destin Daniel Cretton contou com um elenco que encarnou o drama mudo naquele lugar. Passando o protagonismo tenso de Michael B. Jordan até a voz baixa que esconde uma revolta em Jamie Foxx, e usando do apoio de Brie Larson até chegar em dois coadjuvantes que pesam nas cenas do cárcere: O’Shea Jackson Jr (“Straight Outta Compton”) e principalmente Rob Morgan (“Mudbound”). Morgan interpreta um companheiro de prisão de Jamie Foxx, que deveria ter passado por reabilitação e acabou por cometer um crime. É dele o momento mais tenso das duas horas de longa.

Michael B. Jordan, o advogado Bryan Stevenson e Jammie Foxx

A história real e as ligações com um clássico

“Luta por Justiça” cita em alguns momentos um grande clássico dos anos 60: O Sol é Para Todos (To Kill a Mockingbird) . O longa dos anos 60 foi baseado num livro clássico da cultura americana, escrito na mesma cidade onde o longa de 2020 é passado. Na história com o ícone Gregory Peck, o advogado defendia a causa de um homem negro enquanto a cidade o julgava por isso.

Mas o filme não se apega a uma referência. Ele usa dela pra contar que aquele lugar já possuía exemplos de injustiça.

O prêmio do filme é ele usar de seus dois pontos de partida pra mostrar como a sociedade tapa os olhos para um tratamento claramente distinto: Primeiro, o caso real (no vídeo) de Walter McMilliam, o “Johnny D.’ , passou quase sete anos preso aguaradando a chance do novo julgamento, até sua liberdade em 1993.

E depois, o fato de ambientar-se na mesma cidade da autora do livro de ‘O Sol é Para todos”. Isso monta o círculo vicioso que beirava aquela cidade. Juntando sso ao filme, é como se todos os exemplos que as pessoas tem não fossem levadas em conta naquela cidade, que tinha tudo pra ter exemplos de como não seguir, e segue. O filme segue por quase totalidade falando em justiça, mas mostrando aos poucos que essa justiça só chega a uns privilegiados com conceitos armados.

O incômodo necessário

Com essa mescla de sentimentos conflitantes, “Luta por Justiça” toca e faz um bom filme tecnicamente e emocionalmente. Pode ser claramente usado também como casos de estudo faculdades afora, ao mesmo tempo que serve para refletir.

Mesmo claramente tocando em questões de preconceito, “Luta por justiça” só se permite ser explicitamente focado nisso no último arco, porque no restante ele está de verdade focado no seu título brasileiro, tentando “fazer justiça”. Mas ao ser humano que senta na cadeira, é justo levar o nome original que vai onde não se chega: “Just Mercy” (Somente misericórdia).

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